O que estou lendo

domingo, 18 de julho de 2010

O famoso cabo de guerra: Língua de Sinais x Comunicação oral

Saudações!
Bom, eu trabalho com Libras pelo menos 4 horas por dia, falo com surdos que utilizam a língua de sinais todos os dias , assim como profissionais e pessoas que se interessam por aprender a língua para "uma sociedade inclusiva".
Por compreender as "subjetividades" da surdez, algumas coisas engraçadas acontecem comigo:
Pois quando eu falo que faço Mestrado em Distúrbios da Comunicação, que é na área de Fonoaudiologia, alguns arregalam os olhos, denotando uma preocupação pois ainda existe o estigma língua de sinais x fonoaudióloga  aliás, quem trabalha com surdez, tem que saber lidar com estigmas, ainda mais por ser uma linha de "Distúrbios da comunicação", o que denota que algo está errado. Porém, não encontrei outro Mestrado que tivesse a linha "Surdez e cognição" e estou bem feliz. Sendo que, quando falo da pesquisa, já julgam que vou defender a língua de sinais por ser intérprete, então me chama de "entusiasta".

A outra coisa engraçada, é que dou aula de Libras em uma faculdade em Curitiba, aí vem outro estigma de que ouvinte não pode dar aula de Libras porque está tirando o lugar do surdo, a outra coisa mais engraçada, é que, quando a professora surda da minha escola tem dificuldade em escrever, sou eu, a pedagoga ouvinte, que senta e explica para ela o que "objetivos específicos e objetivos estruturantes" significam, porque a intérprete da faculdade dela era fraca, engraçado não? Sendo que muitos alunos meus da faculdade, que tem surdos em suas empresas, já conseguem manter comunicação e explicar o funcionamento das regras internas da empresa, pois na maioria delas não tem intérprete.

Ah! tem algo mais engraçado!! Sim, que quando estou com minha amiga que é surda oralizada e não utiliza a língua de sinais, eu falo devagar, procuro ir em lugar iluminado para conversarmos melhor e quando ela faz aquela expressão de "não entendi" eu falo novamente, e mantemos uma conversa animada e amigável.

Às vezes, me sinto na época da caça as bruxas... a sociedade quer uma coisa, um grupo defende outra (que concordo, pois temos que buscar os nosso direitos para vivermos melhor em sociedade), mas porque tanta agressividade?

Qualquer preconceito dentro da educação não deve ser tolerado, homens, mulheres, surdos, ouvintes, jovens, idosos assim como o respeito pela individualidade da pessoa: eu falo, faço leitura labial, uso língua de sinais, gesticulo, presto atenção na linguagem corporal ou não gosto de falar com pessoas.

Tanta agressividade para quê? Não estamos caminhando para uma sociedade inclusiva? Eu entendo por inclusiva, que devemos respeitar as individualidade de cada um. Pessoas que nasceram surdas, pessoas que ficaram surdas por causa de doença, pessoas que trabalham com pessoas surdas. Para que esse cabo de guerra tão grande? Não deveríamos ir na mesma direção?

Sobre esse Cabo de guerra, deixo o poeta Fernando Pessoa falar:

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:    
"Navegar é preciso;  viver não é preciso".  
Quero para mim o espírito [d]esta frase,  
transformada a forma para a casar como eu sou:  
Viver não é necessário;  o que é necessário é criar. 
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. 
Só quero torná-la grande,  
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.  
Só quero torná-la de toda a humanidade;  
ainda que para isso tenha de a perder como minha. 
Cada vez mais assim penso.  
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue  
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir 
para a evolução da humanidade.  
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça. 

mas tudo bem... é apenas uma ouvinte dando uma opinião... hehehehe

Nenhum comentário:

Postar um comentário